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Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Pélleas reencontrado

 

 

 

 
 
 
Schönberg
Pelléas und Mélisande
e obras de Adams, Tüur e Saarariaho
Orquestra Nacional do Porto, Christopher König
Casa da Música, 20 de Setembro
 
Depois de durante demasiado tempo ter indo anunciando a sua programação trimestralmente – o que além de irritante para o planeamento dos espectadores era um contrassenso para a própria instituição, pois não permitia ver com clareza as linhas de orientação – a Casa da Música passou desde o ano passado, respeitante a este, a anunciar a sua programação justamente num módulo anual.
 
Tanto melhor se deu esse passo, que era imprescindível, mas este conceito de uma instituição musical apresentar a sua programação de acordo com o ano civil, e não o conceito de temporada, também não me parece o mais curial, porque é nesses termos de temporada que assenta o trabalho de formações musicais.
 
Prova do que digo é o facto do concerto do passado dia 20 de Setembro, integrado no ciclo Novas Músicas, ter de facto sido a abertura da temporada da Orquestra Nacional do Porto, e na ocasião a estreia do novo maestro titular, pedra angular que faltava, Christopher König – e é disso que quero falar.
 
König já antes dirigira a ONP, bem como até também o Remix – em Abril, no ciclo Música e Revolução, noutra prova da valia que para a Casa da Música é ter ambos os agrupamentos, os respectivos maestros “trocaram”, König dirigindo o Remix e Peter Rundel a ONP. Mas a responsabilidade de um concerto de estreia como maestro titular é sempre muito particular.
 
“Tough”, dizia-me horas antes König. Foi o contrário da facilidade de facto optar pelo “outro Pélleas”, não o de Debussy, mas o de Schönberg (ou o mais notório dos outros, pois que para o drama de Maeterlinck existem também as músicas de cena de Fauré e Sibelius) e três obras contemporâneas, nenhuma delas de execução acessível, e uma, Lollapallaza de John Adams, mesmo francamente virtuosística – e feita a abrir o concerto com tanto brilho que me ocorreu até a possibilidade de ainda um dia virmos a ouvir essa suprema obra orquestral de Adams que é Eldorado.
 
Mas o importante era mesmo Pélleas e Mélisande, poema sinfónica de grande fôlego, e obra raríssima de se ouvir – para ser preciso, em Portugal, que eu tenha presente e saiba, foi feita uma vez pela então Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (com o maestro Richard Duffalo), mas na Gulbenkian, a, pasme-se!, 7 de Junho de 1974 (por acaso, as últimas representações do Pélleas et Mélisande de Debussy foram na mesma altura).
 
Pedagógico, König fez primeiro uma introdução, apresentando os motivos e temas dos episódios. Depois, deu provas de um apurado trabalho com os naipes – algo que de resto é do mais importante no labor de um maestro-director -, de sentido das densidades e de fôlego narrativo. Estreia auspiciosa, pois.
 
Como já disse alguém mais próximo do processo, “parece que ele vestiu mesmo a camisola”. Tanto melhor.