Call Boys e Vidas dos Outros - rectificação e adenda
A propósito da observação que aqui fiz ao título português de Das Leben der Anderen referido por Rui Moreira (“Depois de ter lhe sugerido Call Girl, recomendo, caro leitor, que não deixe de ver As Vidas dos Outros, um magnífico produto do novo cinema alemão, disponível em DVD”), um leitor atento, a quem agradeço, chama-me a atenção para que nesse particular estou errado: tal como Moreira escreveu o título é mesmo As Vidas dos Outros.
Não deixa de me ser intrigante que só nas presentes circunstâncias me tenha apercebido do facto, pois que para além de “A Vida dos Outros” me parecer uma tradução mais correcta, tenho a noção de que nas muitas conversas tidas sobre esse filme a regra foi falar de “A Vida...”. Como é óbvio, para quem não viu o filme em sala e apenas o descobre agora na edição em dvd, As Vidas dos Outros é título directamente estampado no objecto, de capa acima reproduzida.
Em qualquer caso, é devido a rectificação com as devidas desculpas – e desculpas também a Rui Moreira, por no caso ser descabida a observação que fiz.
Entretanto, faço notar também que em carta hoje no “Público” há uma resposta de José Vieira Mendes, “Jornalista, crítico, membro da bolsa de jurados do Instituto de Cinema e Audiovisual”, editor da finita “Première”.
Por ironia, a resposta directa a Rui Moreira no jornal em que vem publicando tais dislates partiu de um entusiasta confesso de Call Girl. E diz ele:
“A propósito do artigo de opinião do dr. Rui Moreira, intitulado ‘A revolta dos boys’ (14 de Janeiro), venho por este meio afirmar que sou um dos boys a que ele se refere. (...) Não vejo razão para o dr. Rui Morteira pôr tudo no mesmo saco e inclusive nos chamar ‘batoteiros’ e fazer muitas considerações levianas de um mercado que se vê conhece apenas por fora. Sou efectivamente um dos boys ou dos críticos que têm assento nos júris. (...) Ora bem, em primeiro lugar a bolsa de jurados do ICA - Instituto de Cinema e Audiovisual - é constituído por diversas personalidades de destaque e não só por críticos cinematográficos. Lugar esse a que o dr. Rui Moreira se pode candidatar, mas não sem antes ler a lei do cinema e a regulamentação de apoio à criação cinematográfica, e tirar todas as dúvidas relativamente aos critérios com que os membros do júri têm que se reger e que eliminam qualquer probabilidade de batota ou interferência directa na selecção deste ou daquele filme. Por último, regozijo-me também pelo dr. Rui Moreira ter gostado muito do filme alemão As Vidas dos Outros, o que demonstra nele uma certa cultura cinematográfica e não só de filmes americanos. Mas apenas por mera curiosidade, As Vidas dos Outros fez apenas, e apesar de ser um grande filme, 15.000 espectadores nas salas portuguesas em 2007 (...). Portanto, algo se passa, mas a culpa não é dos críticos, nem só do cinema português”.
Gostaria apenas de acrescentar, sem qualquer ironia, que me apraz registar que José Vieira Mendes diga também, referindo-se a mim, que “acho que ele há muito tempo não representa a opinião geral da crítica cinematográfica”. Não só já expliquei suficientemente que nada tenho a ver com qualquer “corporação crítica” e quão distante estou da generalidade da que hoje se pratica na imprensa portuguesa, como não pretendo “representar” nada, e também porque entendo, e volto ainda uma vez a afirmar, que uma situação tão esmagadoramente hegemónica e “fazendo opinião” como a que tivemos no “Expresso – A Revista” nos anos 80, com o deserto à volta, nada tem de salutar – e inclusive constituíu uma das razões porque fui um dos que se votaram ao processo de fundação de um outro jornal.