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Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Histórias do Cinema

“A Tradição está na Passagem do Fogo e não no Culto das Cinzas” de Gustav Deutsch
 
A “opus magnum” que são as Histoire(s) du Cinèma de Jean-Luc Godard, recém-editadas pela Midas, constitui-se como o mais cabal e fértil exemplo da importância de uma reflexão cinematográfica sobre a própria história do cinema. Mas há outros importantes exemplos: os trabalhos de Gustav Deutsch (que têm vindo a ser apresentada em Vila do Conde, no festival, mas também na Galeria Solar), de Al Jaritz, Hollis Frampton, Thom Andersen, Hartmut Bitomsky, etc. É um panorama dessa reflexão que agora nos é proposto, num ciclo programado por Ricardo Matos Cabo na Culturgest.
 
 
 
HISTÓRIAS DO CINEMA POR SI PRÓPRIO
 
Este programa é uma pequena introdução ao tema vasto das histórias do cinema através do cinema. Apresenta ensaios visuais, documentários e outras formas que reflectem através das imagens e dos sons uma visão crítica da História do Cinema para além da cronologia e da história dos autores ou épocas, recorrendo a excertos, à reutilização de imagens, à invenção e análise visual. O programa apresenta diversos exemplos e abordagens deste género maior, presente desde sempre na história do cinema: formas pedagógicas e críticas, meta-histórias do cinema, filmes--compilação, reconstituições e outras formas que se relacionam directamente com esta possibilidade do cinema de constituir um discurso sobre si próprio.
 
 Quarta 23 · 18h30
Modelos pedagógicos/críticos
Naissance du Cinéma de Roger Leenhardt, 1945, 45’
Eadweard Muybridge, Zoopraxographer
de Thom Andersen, 1974, 60’
Naissance du Cinéma foi uma encomenda de Henri Langlois a Roger Leenhardt e faz uso da colecção de dispositivos cinematográficos da Cinemateca Francesa para reconstituir alguns momentos da história primitiva do cinema. O filme de Thom Andersen é um ensaio sobre as implicações históricas, científicas e políticas da obra de Eadweard Muybridge.
Quarta 23 · 21h30
A tradição está na passagem do fogo e não no culto das cinzas
Tradition ist die Weitergabe des Feuers und Nicht die Anbetung der Asche
[A Tradição está na Passagem do Fogo e não no Culto das Cinzas] de Gustav Deutsch, 1999, som, 1’
The Film of Her

Uma sessão dedicada à cultura do arquivo, da preservação do suporte e do fragmento através de diferentes exemplos – um documentário sobre a descoberta da colecção de “paper prints” da Library of Congress nos EUA, um filme de Hollis Frampton composto por imagens retiradas dessa colecção, duas alegorias sobre o fogo, a cinza, a preservação e destruição do suporte nitrato; uma colecção de fragmentos preservados pelo Nederlands Filmmuseum e finalmente um ensaio autobiográfico de Morgan Fisher composto por imagens de fragmentos de película coleccionados pelo realizador.
de Bill Morrison, 1996, p/b, som, 13’
Public Domain
de Hollis Frampton, 1972, p/b, sem som, 18’
Transparencies
de Yervant Gianikian e Angela Ricci-Lucchi, 1998, 10’
Bits and Pieces
compilados no Nederlands Filmmuseum (selecção), 10’
Standard Gauge de Morgan Fisher, 1984, 35’
Quinta 24 · 18h30
Clássicos instantâneos
Intolerance (Abridged)
de Standish Lawder, 1960, 15’
Screening Room with Standish Lawder and Stanley Cavell de Robert Gardner, 1973-2005, 70’

Intolerance (Abridged) é o primeiro filme de uma série que Standish Lawder chamou de “clássicos instantâneos”. É uma redução e compressão da totalidade do filme de D.W. Griffith. O episódio de Screening Room documenta o encontro entre Standish Lawder e o filósofo norte-americano Stanley Cavell, aquando da publicação do seu primeiro e fundamental livro sobre cinema, The World Viewed.
Quinta 24 · 21h30
A reconstituição biográfica, o ensaio visual, e o making-of experimental
Le grand Méliès
de Georges Franju, 1951, 25’
Visual Essays: Origins of Film – Méliès Catalogue

Um filme menos conhecido de Georges Franju, recreação de momentos da vida de George Méliès, tendo como protagonistas a própria família do realizador. De seguida três estudos visuais de Al Razutis, investigações sobre a matéria pictural e fantasmática dos filmes de Méliès.
A segunda parte da sessão abre com outro dos ensaios de Al Razutis da mesma série tendo como eixo as imagens da chegada à estação filmadas pelo irmãos Lumiére. A fechar dois filmes raros sobre a rodagem de La Roue e La Fin du Monde de Abel Gance.
de Al Razutis, 1973, 8’
Visual Essays: Origins of Film – Sequels in Transfigured Time
de Al Razutis, 1976, 14’
Visual Essays: Origins of Film – Lumière’s Train (Arriving at the Station)
de Al Razutis, 1979, 9’
Autour de la Roue
de Blaise Cendrars, 1920-23, 15’
Autour de la Fin du Monde de Eugène Deslaw, 1930, 15’
Sexta 25 · 18h30
Diversidade primitiva
Opening the Nineteenth Century
de Ken Jacobs, 8’
A partir de filmes de viagem do catálogo Lumière, um filme que usa o Efeito Pulfrich a 3D. O filme é simétrico podendo ser mostrado em qualquer direcção. O feixe do projector mantém o ângulo quando encontra o écran, introduzindo volume e luz enquanto Paris, Cairo e Veneza de há um século atrás desfilam pelo écran.
Tom Tom the Piper’s Son
de Ken Jacobs, 1969, 115’
Análise do filme Tom Tom The Piper’s Son realizado por Billy Bitzer em 1905, um filme inspirado numa gravura de William Hogarth, “Southwark Fair”, originando uma transfiguração espectral das imagens de origem. Jacobs penetra na imagem, estudando cada plano em detalhe e criando um dos trabalhos mais importantes do cinema de vanguarda norte-americano.
Sexta 25 · 21h30
A saída da fábrica – variações
Motion Picture: La sortie de l’usine lumière à Lyon
de Peter Tscherkassky, 1984, 3’30’’
Arbeiter verlassen der Fabrik

Variações sobre um dos motivos primeiros da história do cinema – a saída da fábrica. O filme-compilação de Farocki reúne e comenta diversas imagens de filmes ao longo da história que mostram o movimento de saída dos trabalhadores. No final uma selecção dos filmes da dupla Mitchell e Kenyon, documentos sobre a Inglaterra no início do século.
de Harun Farocki, 1995, 36’
Factory Gate Films da colecção Mitchell e Kenyon
Sábado 26 · 16h00
As história(s) do cinema
Visual Essays: Origins of Film – Storming the Winter Palace
de Al Razutis, 1984, 16’
O último dos ensaios visuais de Al Razutis é uma reflexao sobre a montagem e a dialética nos filmes de Eisenstein a partir de imagens de “Outubro” e dos escritos de Benjamin Buchloh, entre outros.
Gloria!
de Hollis Frampton, 1979, 10’
“Em Gloria!, Frampton confronta formas do século XIX com formas contemporâneas, através da junção de um filme de cinema primitivo com a imagem vídeo de material textual. (...) Gloria! transforma-se numa meditação cómica, por vezes comovente, sobre a morte, a memória e sobre o poder da imagem, música e texto para ressuscitar o passado.”
Bruce Jenkins
Moments Choisis des Histoire(s) du Cinéma
de Jean-Luc Godard, 2000, 84’
“Aquilo que revela Godard nestes Moments Choisis é o valor introspectivo da sua reflexão em acto sobre a imagem. Não fazer da história do cinema um monumento cronológico, mas um sonho filosófico imemorial.” E. de Lastens
Sábado 26 · 18h30
A história elementar do cinema
Conferência de Klaus Wyborny com projecção de Elementare Filmgeschichte
A História Elementar do Cinema de Klaus Wyborny é um trabalho em progressão desde 1971 – uma sucessão de filmes de Hollywood filmados de um ecrã de televisão. Filmando apenas alguns fotogramas de cada plano, Wyborny comprime os originais a apenas uns minutos cinéticos. O resultado não só tem o efeito de transformar “Morocco” ou “Million Dollar Legs” em anticipações do seu próprio trabalho, oferecendo uma análise útil da consistência visual que existe e atravessa um dado filme. Os filmes, ordenados cronologicamente tornam explícito o declínio da narrativa comercial e a cada vez maior dependência na forma do campo/contra-campo. Klaus Wyborny estará presente para falar sobre este projecto.
Sábado 26 · 21h30
Antologia do cinema – Hartmut Bitomsky (I)
Das Kino und der Tod
* [O Cinema e a Morte] de Hartmut Bitomsky, 1988, 56’
Flächen, Kino, Bunker – Das Kino und die Schauplätze ** [Superfícies, Cinema, Bunkers] de Hartmut Bitomsky, 1991, 52’

No primeiro filme do projecto Antologia do Cinema de Hartmut Bitomsky, pergunta-se “Porque é que o cinema sente necessidade da morte, se não a pode mostrar?” – O monólogo do realizador cruza o discurso das imagens. O segundo é um filme sobre os lugares tal como são imaginados pelo cinema: espaços de lembrança, reais, semelhantes...cruzados por Hitchcock, Chaplin, Buñuel, Renoir e Depardon.
Domingo 27 · 18h30
Antologia do cinema – Hartmut Bitomsky (II)
Jean Rouch. Premier film: 1947-1991
de Dominique Dubosc, 1991, 27’
Jean Rouch improvisa um novo comentário em harmonia com as suas imagens, terminando assim finalmente, em 1991, o seu «primeiro filme», Au Pays des Mages Noirs.
Das Kino und der Wind und die Photographie: Sieben Kapitel über Dokumentarishe Film
** [O Cinema, o Vento e a Fotografia: Sete Capítulos sobre o Filme Documental] de Hartmut Bitomsky, 1991, 52’
Em “O cinema, o vento…”, o cineasta inquire livremente extratos de citações sobre as imagens documentais e a sua “verdade”. Cruzamos Flaherty, Ivens, Robert Frank, Peter Nestler, Jean Vigo…
Domingo 27 · 21h30
Morrer pelas imagens
La mer et les jours
de Alain Kaminker e René Vogel, 1958, 22’
Mourir pour des images de Réne Vautier, 1971, 45’

“Morrer pelas imagens” reconstitui através de entrevistas a rodagem do filme La Mer et Les Jours, realizado em 1958 por Alain Kaminker e REné Vogel (e com um texto de Chris Marker). Alain Kaminker desapereceu durante a rodagem do filme, um documentário sobre a vida dos habitantes da Ilha de Sein. O filme constitui-se como uma interrogação sobre os laços que unem quem filma aquem é filmado.