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Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Mercado do Bolhão

 

 

 

 

 

Em princípio deveria agora estar no Porto - e teria motivos musicais mais que justificados para isso, o concerto desta noite em Serralves em que John Tilbury interpreta Triadic Memoriesde um dos meus compositores favoritos, Morton Feldman,  à intrigante proposta que será a reunião de Cristina Branco e de um dos mais categorizados agrupamentos de música contemporânea, o Ensemble Modern, amanhã na Casa da Música. E, de resto, esse eixo Serralves/Casa da Música é dos mais frequentes das minhas geografias culturais urbanas, como aliás por certo transparece do que vou escrevendo.
 
A propósito, e de tanto circular nesse eixo, ocorre-me uma memória: a 24-07-06, no mesmíssimo dia em que era publicado o meu texto “O Saque do Rivoli” sobre a privatização anunciada por Rui Rio, pois logo calhou que sucessivamente em Serralves e na Casa da Música avistasse, a prudente distância como se impunha, o edil. Súbito interesse de um homem que se imagina cavaleiro andante contra a “nefanda cultura”?
 
Nada disso: qual “anfitrião” também, supremo ironia, Rui Rio acompanhava o presidente da Comissão Europeia. Pouco importa agora o facto de esse presidente ser português – o que importa sim é ter sido necessário o presidente da Comissão Europeia estar no Porto e querer deslocar-se a Serralves e à Casa da Música para que Rio enfim, com toda a probabilidade pela única vez, se ter também deslocado a esses dois espaços representativos do que resta de um Porto cosmopolita e culturalmente dinâmico que a sua acção autárquica vem bloqueando e mesmo militantemente desprezando.
 
Mas se lamento não poder estar agora é também porque de viva presença me gostaria de associar ao movimento pela preservação da traça e das características históricas do Mercado do Bolhão, um dos ícones da cidade.
 
A democracia representativa funda-se nas instituições electivas mas não se esgota nelas. Os princípios da democracia, o que de mais nobre historicamente houve na ascensão e triunfo da civilidade burguesa, fez-se em primeiro lugar na constituição do espaço público – e isso são também propriamente os espaços.
 
A sanha de Rui Rio é sempre a mesma, obstinada e autocrática: privatizar os espaços públicos. Foi assim com o Rivoli, teatro municipal reabilitado com fundos públicos cuja missão era destinar-se de modo plural a uma diversidade de públicos e apetências culturais, é agora com o Mercado do Bolhão, para a seguir serem esses dois outros emblemáticos mercados do Bom Sucesso e  Ferreira Borges ou o Palácio do Freixo.
 
Isto enquanto como qualquer autocrata todavia não regateia fundos públicos para as manifestações motorizadas da sua predilecção, o circuito da Boavista ou aquele ribombante “Red Bull Air Race” para o qual até fez implantar um aeródromo no Parque da Cidade!
 
 
Porque é uma coisa pública e uma causa pública, aqui se inscreve também o link para a petição contra a demolição anunciada
 
   http://www.PetitionOnline.com/ptratt
 
 
E pela primeira vez nesta página, que a conjunção dos factos assim o justifica, aqui ficam também as imagens do Mercado do Bolhão – é um filme de Renata Sancho de que muito gosto, e que há anos tive ocasião de defender num júri do Festival de Vila do Conde, e foi a própria realizadora que teve a amabilidade de me de fazer saber da sua disponibilização.