O concurso público da Gulbenkian - I
O jornal “Público” noticia hoje, com chamada de primeira página, a saída de Rui Vieira Nery do Serviço de Música da Gulbenkian, do qual é ainda director adjunto, tendo sido expectável que viesse a suceder a Luís Pereira Leal, que se reforma.
Gostaria de fazer notar que, logo após ter reactivado esta página, fiz a ligação para a crónica Estado da Arte na artecapital, “Interrogações sobre a Gulbenkian”: “centrada na política expositiva da Fundação e na situação do CAM, a crónica também aborda outras questões da Gulbenkian - horizonte geral, processo de nova direcção no Serviço de Música, novos Programas -, que me convém desde já notar para posteriores comentários”.
Nesse texto, em linha há mais de um mês, escrevo nomeadamente:
“A abrupta declaração pública de extinção pública do Ballet Gulbenkian, em Julho de 2005 foi a confirmação de que melhores dias passaram.
Nessa ocasião, tive de recordar que já três anos antes, precisamente na sequência da eleição de Rui Vilar, havia escrito que com aquela se tinha iniciado 'a contagem decrescente para o fim do Serviço de Música [em que o Ballet se integrava] tal como o conhecemos'. Se olhar para o presente Conselho de Administração, o dado concreto existente, a minha perspectiva para o futuro da Gulbenkian, com base em muito anos de conhecimento da 'casa', é ainda mais reservada para o possível horizonte pós-Vilar: as pressões no sentido de apoio privilegiado a programas educacionais e formativos em vez de iniciativas e estruturas próprias serão, estou em crer, cada vez mais fortes.
De resto as bases nesse sentido de desinvestimento estão criadas, com o Programa Criatividade e Criação Artística e o futuro outro programa de Educação pela Arte – e os respectivos responsáveis, António Pinto Ribeiro e Rui Vieira Nery, são justamente “responsáveis” suficientes para saber o que legitimam (e o que indirectamente deslegitimam).”
(…)
Assim se vêm arrastando questões como a passagem de testemunho na ‘fundação dentro da fundação’, ou seja, o Serviço de Música, e o futuro do Centro de Arte Moderna.
Quando se tenta uma abordagem da Gulbenkian suponho que é de ter em conta ambas as questões, em vez de perspectivas exclusivamente sectoriais. E por isso permito-me supor também, mesmo que com perspectiva a prazo reservada, que dois anúncios recentes devem ambos ser considerados: a notícia da compra pela Gulbenkian da última parcela do Parque de Santa Gertrudes que lhe faltava e do consequente futuro alargamento do CAM, e o anúncio público de um concurso internacional para apresentação de candidaturas ao cargo de director do Serviço de Música.”
A notícia estava pois dada, quer a do concurso público internacional, de que o anúncio foi publicado no suplemento Emprego do “Expresso” em 16-02, quer das novas funções para que transita Rui Vieira Nery, sendo que julgo saber – e o “Público” não o diz - que o mesmo manterá contudo ligação ao Serviço de Música como consultor para musicologia, área em que o seu saber é inestimável e área em que seria da maior importância a Fundação ter uma acção destacada.
Mas como disse, o processo de nova direcção do Serviço de Música e os novos Programas, sobretudo o primeiro, são aspectos que - além da apreciação que é devida a Luís Pereira Leal - me justificam mais comentários, sendo também que, se no referido Estado da Arte invocava justamente esse exemplo para corrobar a opinião já expandida por Raquel Henriques da Silva de que deveria (igualmente) haver um concurso público internacional para a direcção do Centro de Arte Moderna, não menos acho que a decisão de concurso que a Gulbenkian tomou – ao fim de uma prolongada indefinição por parte da administradora com o pelouro, Teresa Gouveia – é um precedente importante, que a partir de agora deverá mesmo ser tido em conta noutras instituições (ou na nossa avaliação pública delas), incluindo como é óbvio noutras instituições musicais portuguesas.