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Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Casa da Música - II

 

Mais do que pelo seus sucessos particulares, com um agrupamento de projecção internacional como o Remix, a consolidação da Orquestra Nacional do Porto, de facto única orquestra sinfónica do país, os ciclos de jazz e (único também) de músicas de mundos ou ainda de pop, com o caso de êxito, autêntico facto sociológico, que é mensalmente o Clubbing (como digo abaixo, apesar dos excelentes ciclos anuais de À Volta do Barroco, apenas a Orquestra Barroca Casa da Música necessita de um maior investimento e trabalho mais regular – e trabalho de formação – e é de lamentar o fim do Estúdio de Ópera), a Casa da Música impôs-se sobretudo pelo somatório de todas essas componentes e mais: ultrapassando a visão provinciana, e de um provincianismo sobretudo lisboeta, de que iria ser uma “gulbenkianzinha” do Porto, afirmou-se verdadeiramente como uma instituição única e imprescindível, a casa de toda as músicas.
 
Dito isto que é o fundamental, há também que lembrar que em relação ao modelo apontado desde a formulação do projecto, a Cité de la Musique em Paris, há dois módulos fundamentais que tardam em ser abordados: um, tanto mais óbvio, é potenciar as interdisciplinaridades de géneros organizando ciclos temáticos, por exemplos de instrumentos ou famílias instrumentais (percussões, por exemplo) ou questões (ritmo ou espacialização por exemplo). Outro é o que na Cité de la Musique é o “Domaine Privé” (o caso mais recente foi o singularíssimo John Zorn), a “carta branca” a um músico, até porque é deveras importante que não sejam só os programadores mas também os músicos a programar – e exemplos de músicos possíveis não faltam: Heinz Holliger, Michel Portal, Sónia Wieder-Atherton, Brian Eno, o citado Zorn, até quiçá (sabe-se lá se não aceitaria condições particulares para um projecto deste tipo) Sting.
 
A Casa da Música, para nosso prazer – e tanto mais na penúria cultural dominante – é já um projecto consolidado com o seu perfil único, mas é também ainda, deve ser, um projecto em construção.