Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

"Elektra" uma discografia

 

 

 

 

A discografia da Elektra tem uma característica singular: seria de supor, pelas espantosas texturas da partitura de Richard Strauss, que só uma adequada captação sonora e o detalhe possível no trabalho de estúdio fizessem justiça à obra; ora sucede exactamente o contrário, nenhuma das gravações de estúdio se aproxima da tensão da obra, que ao invés pode ser claramente apreciada numa pletora de registos “live”.
 
È no registo directo do palco que se sente a tensão extrema da obra, e é em cena que melhor se podem ouvir as intérpretes lendárias, Astrid Varnay, Christel Goltz, Inge Borkh e Birgit Nilsson (Elektra), Leonie Rysanek (Chrysotemis) ou Martha Mödl e Regina Resnik (Klytemnestra)..
 
Em termos de elenco, e de uma concepção majestática, a gravação que sobressai é aquela dirigida por Karl Böhm a 16 de Dezembro de 1965 na Ópera de Viena (Standing Room Only): Birgit Nilsson (Elektra), Leonie Rysanek (Chrysostemis), Regina Resnik (Klitemnestra), Eberhard Wächter (Oreste) e Wolfgang Windgassen (Egisto). Nilsson é uma Elektra marmórea com uma prodigiosa emissão nos agudos, Rysanek, incomparável Chrysotemis no seu ideal de feminilidade, tem porventura aqui o melhor dos seus registos, Resnik é grandiosa e de uma violência perturbada mas que sem nunca perder o porte de rainha.
.
Numa outra linha há as concepções mais neuróticas ou mesmo histéricas. Dir-se-ia que nenhuma outra Elektra ecoa tanto as profundezas do inconsciente como a que Fritz Reiner dirigiu no Metropolitan em 1952 (Archipel), com Astrid Varnay.
 
Mas para nesta linha de concepção da obra são necessárias intérpretes de características muito particulares. Duas deixaram marca duradoura, Christel Goltz e Inge Borkh.
 
Goltz era a fera, como o testemunha a representação captada a 26 de Agosto de 1955 na ópera da Baviera e dirigida por Karl Böhm (Golden Melodram), mas a “gata selvagem” de que falam as seguidoras, essa foi sobretudo, incomparavelmente, Inge Borkh.
 
Com ela, a gravação de 1957 no Festival de Salzburgo dirigida por Dimitri Mitropoulos (Orfeo), é um prodígio. È uma direcção fulgurante, cortante, que nos deixa sôfregos de respiração. Borkh, mais que febril, é demencial e determinada,
 
Enfim cabe referir uma outra grande intérprete, a mais vitalista, e de saúde vocal insolente, Ursula Schröder-Feinen, captada a 17 de Junho de 1977 na Ópera da Baviera ainda sob a direcção de Böhm (BellaVoce)
 
 
 
 
Extractos de um texto sobre a discografia da Elektra no sítio do Serviço de Música da Fundação Gulbenkian.