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Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Textos e imagens

Como tinha deixado escrito quando do recomeço desta página, a publicação de novos textos estava também dependente da conclusão de outros compromissos urgentes, tarefa a que tenho tido que me votar nos últimos dias. Estão assim nomeadamente atrasadas diversas críticas de música e de discos, mas não só.

 

Sucede ainda que há um outro problema de ordem técnica: encontro-me impedido de colocar imagens e hiperligações. Espero que a resolução seja o mais rápida possível para repor a escrita em dia

 

Até já.

 

Adenda - 06-04

 

A questão das imagens está entretanto resolvida como se pode verificar nos três textos abaixos, pelo que retomarei a escrita logo que possível, com a maior brevidade.

Recomeçar

 

As notícias sobre o fim desta página foram apenas ligeiramente exageradas, ou, com maior exactidão, algo prematuras. Três meses sem colocar em linha qualquer texto é de facto, reconheço, tempo suficiente para supor o fim, e (mais) este recomeço não invalida que possam ter sido colocadas questões de credibilidade no respeitante à própria existência do Letra de Forma.
 
Posso apenas dizer que, para além das absorventes tarefas referidas no post anterior, os azares têm-me perseguido, com problemas de ordem física e pessoal, a que acresceu um aparatoso acidente no escritório de trabalho que demorou semanas a estar de novo em condições.
 
Os próximos dias são de conclusão urgente de alguns trabalhos, com consequente menos tempo para esta página, mas não quis adiar mais a sua reactivação.
 
Factos e objectos houve neste interregno sobre os quais se perdeu a oportunidade e pertinência da escrita. Mas, apesar do atraso, creio ainda justificado que faça alguns flash-backs de balanço sobre o ano anterior e mesmo os anos 00, e um ou outro facto entretanto ocorrido, conjuntamente com questões de actualidade imediata.
 
Recomeçemos, pois.

Intermezzo

 

Está visto que esta página tem intermitências mais ou menos longas. Desta feita foi uma mudança de casa e um interminável processo de arrumação, sem o qual não há condições de trabalho. Mas volto já.

Explicação de uma ausência

 

A ausência foi tão longa que aos que passaram e passem por esta página – que muitos certamente tomaram como extinta – é devida uma explicação.
 
Sem entrar em pormenorizações intímas de tipo Facebook, há no entanto factores de ordem pessoal, mais propriamente de uma história clínica, que são razão dos factos e de uma suspensão do Letra de Forma de quase seis meses. Umas horas depois de ter colocado em linha o texto sobre Dias de Música fui internado de urgência. O internamento hospitalar foi longo de meses e a convalescência prosseguida em condições de debilidade e com uma logística diferente da que era antes a minha vida quotidiana. Esta é a razão da ausência.
 
Terão alguns notado, porque foi facto público, que entretanto cumpri as minhas funções de programador associado do Doclisboa, e especificamente responsável pela secção “Riscos” e este ano também pela retrospectiva dedicada a Jonas Mekas, além de comparticipar da selecção das competições internacionais, mas não quis estar numa situação, já de si precária, em que outros trabalhos fizessem com que voltasse ao Letra de Forma em situação intermitente. Volto precisamente agora porque considero ter as condições de uma cadência regular.
 
Sou afecto a datas, a algumas datas, e, ao mesmo tempo que outros textos estão prestes a entrar em linha, não quis deixar de assinalar o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim, colocando em linha um texto escrito há 10 anos, aliás um dos textos que me é mais caro – precisamente porque a queda do Muro foi um dos dias mais felizes da minha vida, de intenso júbilo, e um eventos mais marcantes da História contemporânea, não quis deixar de o assinalar, por evidentes motivos políticos mas também de memória pessoal – e de assim, sendo afecto a datas, a algumas datas, foi esta um impulso decisivo para dar de novo continuidade ao Letra de Forma num momento em que, depois de um tão grave incidente de saúde, estou também afinal numa nova fase da minha vida, que decorre da própria condição de “sobrevivente”.
 
Neste interregno ocorreram muitas coisas sobre as quais gostaria de ter escrito (e obviamente houve imensas coisas que perdi), e algumas vou ainda recuperá-las se a reflexão assim o justificar. Tenho em particular a noção de que críticas a concertos ou espectáculos devem ser rápidas de publicação, mas também me permito algumas considerações mais “inactuais” se entender importante o registo de reflexão. Ainda mais em particular tenho a noção que na edição discográfica, a cujo acompanhamento me dedico, a disponibilidade das obras nos estabelecimentos se tornou tão rápida que há cada vez mais desfasamentos das críticas – e estou também a falar da imprensa escrita – mas tenho também a noção que, além de compartilhar a fruição, com os meios actualmente existentes não deixa de ser também possível encomendar um objecto se a escrita e a sua leitura a isso convidarem.
 

Aos que foram passando por aqui para ver se a página tinha sido retomada, aos que agor voltarem, devo, além desta explicação, um obrigado.

Depois de outra tão longa ausência...

 

“Don Carlos” pela Cornucópia e “Café Müller” de e com Pina Bausch, dois notórios exemplos do muito que não escrevi
 
 
 
 
Uma outra tão longa ausência – e bem mais longa esta – obriga a uma nova explicação aos leitores.
 
Há três meses atrás expliquei que o momento de mais intenso trabalho na preparação das secções pelas quais era responsável no DocLisboa me obrigara a uma pausa. Se sair desse esforço foi difícil muito pior ainda viria a ser a experiência propriamente do festival e sobretudo o pós-Doc.
 
Para além da minha colaboração regular anual de programação de cinema com a Culturgest, sempre declarei a disponibilidade para, havendo solicitação da outra parte, colaborar com os três festivais que considero relevantes, o DocLisboa, o Indie e as Curtas de Vila do Conde. Mas isso mantendo uma relativa autonomia que me permita também preservar uma perspectiva crítica – e sou particularmente reticente a esta funesta tendência de os festivais estarem sempre a proclamar mais filmes, mais salas e mais espectadores.
 
No ano passado poderia ter sido co-director do Doc – e de facto contribui substancialmente para as escolhas da Competição Internacional e das Investigações. Pelas razões expostas preferi ser antes Programador Associado e responsável directo por duas secções, a retrospectivas de Diários Filmados e Auto-Retratos e a nova secção de Riscos e Ensaios, que fui solicitado a conceber.
 
Ao saber do arranque de ainda outras secções este ano, e da extensão em tempo pleno do festival ao São Jorge, para além da sua base na Culturgest, e do prolongamento iniciado em 2007 ao cinema Londres, decidi nem sequer me manter como Programador Associado, restringindo-me estritamente às duas secções de minha inteira responsabilidade.
 
Tenho como certo que foi o mais importante conjunto de filmes que me foi possível programar em muitos anos, e essa foi uma experiência exaltante. Mas o gigantismo geral deixou-me abafado, houve demasiados erros na grelha de programação (um ou outro meu também) e, embora já devesse estar habituado, continuo a ficar estupefacto e  com o desinteresse da esmagadora maioria dos ditos “críticos cinematográficos” em descobrir, e em particular mesmo desanimado nalguns casos – acrescendo agora que nalguma blogosfera, que tinha neste tinha tipo de iniciativas uma ocasião de afirmar a sua importância, também afinal encontro ressabiamentos e dogmatismos.
 
Se continuarei em concreto a colaborar ou não com o DocLisboa verei. Certo é que afinal o decorrer do festival, que na parte que me dizia respeito até teve momentos muitos altos (e outros houve, como a retrospectiva Wiseman), me originou uma consternação e um posterior bloqueio de escrita. Acrescendo omissões que antes tinha já havido, e que entretanto também perdi espectáculos importantes (por exemplo o Siegfried no São Carlos, retido que fiquei, para a derradeira récita, no dilúvio ocorrido em Lisboa a 25 de Outubro, ou que não ouvi os últimos concertos dedicados a Magnus Lindberg, etc.) é afinal muito o que não escrevi – e, entre tantos exemplos possíveis já anteriores, não posso deixar de referir os dois máximos espectáculos teatrais que vi este ano, o Don Carlos, Infante de Espanha de Schiller, encenação de Luís Miguel Cintra, pela Cornucópia (um dos maiores espectáculos da história da companhia – e sou espectador desde a fundação, em 1973) e o Peer Gynt de Ibsen, encenação de Peter Zadek, pelo Berliner Ensemble, no Festival de Almada. E tantos concertos… Mas também não falei do Festival Pina Bausch, organizado pelo CCB e pelo São Luiz, ou mais em concreto por António Mega Ferreira e Jorge Salavisa, que para além de emoções intensas – como ver Pina de novo a dançar, quiçá pela última vez, a sua peça mais emblemática, Café Müller, foi uma operação escandalosa no modo de apresentação pelos responsáveis, num despudorado exercício de “revisionismo” histórico.
 
Por mais importante que seja a atenção à actualidade, esta é uma página pessoal e não me incomoda nada, antes pelo contrário posso por vezes ter como importante, que nela haja também Considerações inactuais. E a abordagem de alguns acontecimentos será também por certo também ocasião de retomar outros relacionados ocorridos nos últimos meses.
 
Se calhar devia ter aprendido a lição de vários acidentes de percurso e não anunciar ou reafirmar propósitos próximos – mas, por outro lado, é também uma disciplina de trabalho.
 
Assim, reafirmo objectivos de abordagem como, a) “La bande des trois R” (Resnais, Rivette, Rohmer), b) PortugALL S.A. – As colecções de Manuel Pinho, ou c) as programações e situações da Gulbenkian (esta, uma abordagem claramente atrasada, mas também com alguma razão de ser agora que já há nomeado – sim já há – um novo director do Serviço de Música), Casa da Música (também com novo director artístico) e CCB.
 
Pelos motivos expostos acresce uma necessária reflexão sobre festivais e modos de difusão e conhecimento e as incontornáveis datas que são os centenários de Claude Levi-Strauss, Elliot Carter e Manoel de Oliveira.
 
E há pilhas e pilhas de discos e dvds (de cinema e música) sobre os quais escrever, e também duas discografias críticas, preparadas ao longo de muitos meses, e que, uma por motivos óbvios, outra por motivos obtusos, têm mais que justificação – se impõem mesmo publicar este ano.
 
Espero estar à altura das responsabilidades e do eventual interesse dos leitores, a quem de novo agradeço.

Volto já

O momento de mais intenso trabalho na preparação das secções pelas quais sou responsável no próximo DocLisboa obrigou-me a uma pausa. Acresceu mais outro problema informático.

 

Ainda assim, tenho vindo a preparar alguns textos e não quereria que outros se atrasassem mais.

 

Assim, volto já, com um programa incluindo nomeadamente,

 

- perspectivas mozartianas, a propósito dos dois novos e surpreendentes discos dirigidos por Claudio Abbado,

 

- Sokurov e Galina Vishenvskaya, ainda,

 

- alguns recentes concertos de jazz (Sax Summit na Casa da Música, MIchel Portal em Serralves, Cascais Jazz, Jazz em Agosto),

 

- "La bande des trois R" (Resnais, Rohmer, Rivette),

 

- dvds de ópera dos principais festivais de verão (Bayreuth, Salzburgo, Aix-en-Provence)

 

- etc.

 

 

Até já, pois

Réplicas, comentários - e questões

 

A propósito do texto anterior, ou, mais exactamente, da publicação de uma réplica, importa-me de novo esclarecer que o caixa de correio existe também para respostas e comentários. Se bem que o Letra de Forma funcione como página pessoal, não menos me é importante estar aberto ao debate e à polémica. Não aceito contudo é a “caixa de comentários”, sendo que como, é facilmente verificável, e é importante sobre isso reflectir também, as ditas caixas são sobretudo povoadas por comentários ou sem qualquer interesse ou dando azo a estados de ressentimento, quando não de insulto, sendo também que quando há comentários que são de facto pertinentes então eles devem estar em situação de leitura imediata – e para “moderar” uma tal caixa não tenho a menor das vocações.
 
Escrevi em tempos um texto, “Foi você que pediu uma democracia SMS?”, sobre a intrínseca perversidade das sugestões mediáticas de pretensa “democracia participativa” e os “inquéritos feitos” por jornais junto dos seus “leitores” – dos leitores que se dispõe a fazer militantemente a sua opção por meio da Internet, como é óbvio. E esse meu texto data de Novembro de 2002, bem antes portanto da celeuma provocada pela votação no concurso “Grandes Portugueses” – sendo curioso, acrescento, que o mesmo método tenha sido “pacificamente” aceite como metodologia de outro análogo concurso, o das “Novas Sete Maravilhas do Mundo”, que até teve – sim, convém relembrá-lo – o patrocínio do Ministério da Cultura da Profª Pires de Lima, e mesmo um representante destacado em jeito de comissário por esse ministério, nada menos do que um dos bonzos do regime, o Prof. Freitas do Amaral, supondo-se que deveria mesmo ter sido motivo de “orgulho nacional” o facto da apoteose ter tido lugar em Lisboa!
 
Há evidente que há mutações das sociedades no sentido da chamada “democracia de opinião”, de resto mesmo com importantes consequências políticas, como foi o caso em França da candidatura de Segoléne Royal, que de facto emergiu da net e dessa espécie de página de “myspace” que se designou por “désiresdeavenir”, com a notória consequência dessa mescla de aspirações se ter tornado em termos de projecto política num efectivo nado-morto.
 
Em termos mais latos, é evidente que essa lógica tendencialmente instantânea da “democracia de opinião” (a tal “democracia sms” e todos os seus correlatos) está a agravar ainda mais a crise patente das democracia representativas, dos laços da representação política e das instâncias de regulação e mediação, mesmo no sentido do que o sociólogo Pierre Rosanvallon designa por Contre-Democracie – e o subtítulo desse livro, “La politique à l’âge de la défiance”, indica uma disseminada atitude não só de “desconfiança” mas de ressentimento e protesto privado de conteúdos concretos, que podendo ainda ter fundas razões, e tem-nas por certo, se traduz, mais do que em qualquer atitude de mudança, numa deslegitimação generalizada de que tão só sobressaem, reforçando o seu poder sensacionalista e a derrota do pensamento e da acção reflectida, as televisões e imprensa ditas “populares” – lógica que é prosseguida na manifestação imediata por meios de sms ou da net.
 
Há algum tempo atrás, um editoralista do “Le Monde” constatava amargamente que enquanto sempre fora regra deontológica do jornal os textos serem assinados, a edição electrónica estava agora inundada por comentários anónimos ou de identificação da autoria não controlada. E basta ver as caixas de comentarias nas edições electrónicas do “Expresso” e do “Público” para se verificar o tipo de teor altamente maioritário dos comentários.
 
Não pode ser ignorado que esta é uma das questões mais fundamentais da nova era dos media, concorde-se ou não com a posição extremamente crítica, claramente refractária mesmo, expressa por Andrew Keen em O Culto do Amadorismo (agora editado em Portugal pela Guerra e Paz), tal como não pode ser ignorado o debate em curso nos Estados Unidos sobre se os blogs, no modo mais imediato de simples expressão de opinião, não são causa determinante na rarefacção ou desaparecimento dos espaços de crítica, de opinião fundada e articulada, na imprensa – questão tanto mais importante quanto de facto coloca em causa os fundamentos da noção de espaço público, um dos sustentáculos axiais das sociedades abertas e democráticas.
 
Já agora, e no que a blogs e caixas de comentários diz respeito, estas são apresentadas (e foi-me reiteradamente exposta tal consideração a propósito do Letra de Forma) como um factor de “animação”, que afinal o é em termos de competitividade e de um uma espécie de correlato de “guerras de audiências”. Claro que não menos tosco é, não tendo comentários, afirmar uma vocação hegemónica publicando contributos, reais ou supostos, como também fotografias indigentes, naquela formulação falaciosa do inevitável Pacheco Pereira,  “O Abrupto feito pelos seus leitores”.
 
Creio efectivamente que estas são questões de ordem comunicacional importante, de mutação do espaço público, mas não queria deixar também de reiterar a minha disponibilidade para a publicação de comentários e réplicas, para o debate e contraposição, e que é também com vista a isso que existe o endereço letradeforma@sapo.pt – e já agora aproveito também para agradecer o conjunto de informações e apreciações que me é enviado, sendo que algumas sugestões ou pedidos terão oportunamente resposta.

Discos recomendados - e não apenas discos

 

 
 
A partir de agora, e como anteriormente fazia em papel impresso de jornal, vou fazer uso também da menção disco recomendado, sinalizados com a forma gráfica de aplausos – só que agora não apenas para discos. É uma forma de destaque, esperando que assim mais passe a corrente, de objectos que me tocaram especialmente mais poderem suscitar o particular interesse de outros.
 

Escrita em dia - II

 

E, ao centésimo post, o enunciado de um programa de trabalhos para pôr a escrita em dia: reactivada a Letra de Forma, reiniciados os exercícios críticos, é tempo de não só prosseguir uma escrita de actualidade imediata como também de recuperar do tempo de interrupção. Assim, irei não só abordando novos objectos e questões como também outros entretanto passados, e sobre os quais quero ainda deixar considerações em letra de forma. Isso implica, de igual modo, fazer um percurso entre várias das instituições culturais maiores, São Carlos, Gulbenkian, Casa da Música ou Centro Cultural de Belém, tanto mais que se acerca esse tempo próprio de balanço que é o final da temporada. E há não poucas as coisas, de cinema, música, teatro, dança, etc., sobre as quais escrever.