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Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Letra de Forma

"A crítica deve ser parcial, política e apaixonada." Baudelaire

Badiou: que totalitarismo?

 

 

 

 
A propósito do meu questionamento das posições de Alain Badiou e de Slavoj Zizek, recebi a seguinte contraposição de Carlos Vidal, crítico e artista plástico, e autor de Sombras Irredutíveis – Arte, Amor, Ciência e Política em Alain Badiou (Vendaval – singular e preciosa editora).
 
 
 
 
 
 
Caro Augusto
 
Vejo alguma incerteza ou mesmo inquietação neste teus últimos posts, em torno de Badiou e de Zizek,
e penso que essa inquietação se deve à forte crítica de ambos (apesar de Badiou ser, acho eu, um acaso mais sério) à democracia representativa que tu, de forma coerente, julgarás insuperável (?) (como Sartre achava o marxismo). No fundo o que eu temo em quem pensa a democracia como um modo de organização da vida colectiva que nos abre para várias hipóteses, positivas e negativas, em que a alternância existente nos exige lutas (pluripartidárias) por correcções não destrutivas do edifício global, o que mais me preocupa nesta aceitação passiva da democracia é a falsa escolha ou falsa alternativa que poderia assim ser sistematizada: ou democracia ou totalitarismo (versão simpática de quem não é por nós é contra nós).
 
Hegel ensinou-nos que há sempre um terceiro elemento. Badiou, sabedor dessa hipótese comporta-se como um sábio hegeliano. Não aceita alternativas binárias. No seu Logiques des Mondes propôs o seu terceiro elemento deste modo: diz-se na democracia que não há senão corpos e linguagens, ao que o filósofo acrescentou – “excepto que há verdades”. Quer dizer, dizer que não há senão corpos e linguagens (que Badiou chama a falsa alternativa do “materialismo democrático”), significa desmobilizarmo-nos perante a “evidência” de que vivemos numa biopolítica ou numa bio-sociedade, em que o corpo e a perecibilidade (ou o corpo optimizado para a produção de que falava Foucault) deve ser protegido como coisa frágil ao que se associa a linguagem e a protecção da livre expressão. Mas Badiou acrescenta que existem verdades ou, se quiseres “acontecimentos”. E chegamos à ultrapassagem de outra falsa alternativa: não há senão democracia e totalitarismo, excepto que há acontecimentos (verdades).
 
Vamos a uma parte polémica destas considerações, que eu acrescento, que é a de que a história, desde sempre confirma esta realidade do acontecimento. Ora o que é o acontecimento ? Em primeiro lugar ele diz-nos ( e todos concordamos com isso) que nada chegou ao fim nem chega (por isso Badiou cultiva o infinito que retira da matemática de Cantor, como coisa não teológica, mas autoconsistente e construtível). Se nada chegou ao fim tudo pode ainda ser inventado, quer dizer, não se trata de dizer como irá ser a alternativa de vida futura à democracia actual, mas sim que o acontecimento é inevitável (desde Spartacus que a política de emancipação se repete incessantemente). E a pergunta passa a ser: “o que é que construíste de novo ?”
 
O acontecimento tem três ou quatro premissas: em primeilo lugar, ele irrompe numa situação (que se supunha estável) de forma inédita, sem pré-aviso, sem data e imprevisivelmente. O seu carácter inédito afasta-o de ser entendido pelo conhecimento, que nunca o pode explicar nem pode explicar a razão de ser dessa súbita, inesperada e efémera irrupção de algo que não se sabe o que é, numa situação determinada (um país, uma cidade, uma relação entre duas pessoas, etc). As razões pelas quais ele não pode ser explicado estão no facto do seu ineditismo e num outro pormenor: o acontecimento é constituído por “pedaços” da situação (anterior), logo começa por ser indiscernível. Sendo indiscernível, o acontecimento não se pode confundir com o conceito vanguardista das “rupturas»” (que, aliás, Hal Foster muito desconsidera). Mas perante algo que se move, diremos: algo sucede, não sei o que é, mas a isso sou fiel. Portanto, é o sujeito quem decide da sua fidelidade ou não ao acontecimento que ele não entende, nem tem razão sólida para a ele aderir - trata-se aqui de um processo de liberdade de decisão que em muito ultrapassa a democracia formal, sem dúvida, na minha opinião. Aderindo ao acontecimento, o sujeito adere àquilo que não sabe como vai acabar, tem de se disponibilizar para o imprevisível. É como dizer “avançamos e depois logo se vê”, de novo uma liberdade que nos compensa mais que qualquer representatividade.
 
De resto, sobre a hipótese comunista diz Badiou no último polémico livro sobre Sarkozy: não conheço outra hipótese de emancipação que não a hipótese comunista. Quer dizer, eu também, ou melhor, nós também não - a não ser que queiramos discutir o conceito de emancipação.
Os acontecimentos de Badiou são conhecidos: Ésquilo, Schoenberg, Galileu, Mao, Lenine, S. Paulo, Maio 68, etc. E eu poderia acrescentar: o 25 de Abril e o PREC. O 25 de Abril é interessantíssimo. A decisão do sujeito do acontecimento - a população de Lisboa - foi a de que o golpe era não dos duros do regime, mas de derrube do mesmo. Isto sem garantias nenhumas até uma certa hora desse dia. Quem está por detrás desse golpe quer libertar ou radicalizar o regime? Na base de nada, a população escolheu e decidiu. O sujeito fiel do acontecimento não espera por explicações nem pelo conhecimento adquirido para decidir - a decisão livre é sempre feita na base de nada. E nenhum destes mecanismos que aqui descrevi são integráveis na democracia, atenção - a escolha verdadeira não deve ser feita entre a grupo-partido A ou B, a verdadeira escolha é a do sujeito do acontecimento, a liberdade só pode ser edificada sem interesses particulares e na base de nada.
 
 
Claro que Le Siècle é uma portentosa interpretação do século passado, mas não é o volume que expõe o pensamento, ou melhor, a raíz do pensamento antidemocrático de Badiou. Como sabes, temos de ir ao Être et Événement, I e II (com cerca de vinte anos (!) de permeio um do outro). Aliás, modestamente, acho-os dois dos livros do século XX. Hegeliano, sim, Badiou é-o no volume II citado (mas também maoísta e kierkegardiano). Muito sinteticamente, julgo que em Badiou o “sujeito” tem um papel tão fulcral que é ele mesmo que supera a dicotomia democracia-totalitarismo (ele tem a liberdade de ser injustificadamente “sujeito do acontecimento”).
 
 
Um abraço
 
Carlos Vidal
 
 
 

 

Badiou ou a teologia marxista-leninista

 

Saint Paul au milieu du front
LE MONDE | 03.05.08
 
Austères, intraitables, ils sont restés fidèles à eux-mêmes. A la fin des années 1960, les jeunes "maos" se croisaient dans les couloirs de l'Ecole normale supérieure, entre une discussion avec le philosophe Louis Althusser et un séminaire du psychanalyste Jacques Lacan. Ils ferraillaient à propos de tel ou tel article publié par les Cahiers marxistes-léninistes, une revue où l'on pouvait lire en exergue les mots suivants : "La théorie de Marx est toute-puissante parce qu'elle est vraie."
                                                                                                                                                             Quarante ans plus tard, ces brillants sujets tiennent encore le haut du pavé parisien, partageant toujours une même conviction : qui veut le pouvoir doit détenir la vérité. "Ce sont des aristocrates qui méprisent la piétaille de Mai 68, remarque le philosophe Bernard-Henri Lévy, leur cadet de quelques années. Chez eux, il y a une jeunesse inentamée : l'enthousiasme spéculatif et la furie conceptuelle n'ont pas varié."
                                                                                                                                                                            Par-delà les ruptures personnelles, les clivages idéologiques, les ex-maos ont conservé bien des traits communs : d'abord, la certitude que le combat intellectuel est le seul qui compte vraiment. Ensuite, la conscience que, pas plus que les autres, cette bataille-là ne se mène avec des gants blancs. Enfin, un rapport terroriste au langage, déterminé par la haine du compromis, voué à l'intimidation d'autrui.
                                                                                                                                                                       Leurs joutes continuent de polariser une large partie du champ intellectuel français, où les avant-gardes ont d'autant plus d'impact qu'elles sont marginales : "C'est un jeu stratégique qui se déploie dans un mouchoir de poche, poursuit Bernard-Henri Lévy. Mais tous ont un rayonnement considérable, selon le principe de la microsecte à effets virulents. Et de même qu'il y eut jadis une génération structurée par le face-à-face entre ces deux enragés qu'étaient André Breton et Louis Aragon, de même il y a aujourd'hui une génération qui doit choisir entre deux sartriens, Benny Lévy et Alain Badiou."
                                                                                                                                                                                 Sur les ruines du maoïsme à la française, telle serait la nouvelle ligne de front. D'un côté, la petite troupe attachée à Benny Lévy. Ancien chef de la Gauche prolétarienne (GP), celui-ci a fait "retour" à la tradition juive, dès le milieu des années 1970. Dans l'Institut d'études levinassiennes qu'il a fondé en 2000, l'espérance radicale s'énonce désormais à la lumière de la Torah. Après la mort de Benny Lévy, en 2003, ses amis se regroupent autour du linguiste Jean-Claude Milner : "Milner, c'est une intelligence disponible, commente le psychanalyste Jacques-Alain Miller, ex-mao et gendre de Lacan. Le désir brûlant était celui de Benny, mais Milner sert son impulsion, il parle pour lui. C'est un travail de piété."
                                                                                                                                                                                        De l'autre côté, les disciples d'Alain Badiou. En mai 1968, ce paisible père de famille, qui enseigne la philo à Reims, bascule dans l'engagement politique, s'en allant diffuser ses idées à la porte des usines et dans les foyers d'immigrés. Un choix vécu sur le mode de la conversion : "Mai 68, pour moi, ce fut une chute sur le chemin de Damas, confie-t-il. Avant, je me considérais comme un écrivain ; ensuite, je deviens un militant dont la politique absorbe l'existence." Dans l'après-Mai 68, le philosophe fonde la groupusculaire Union des communistes marxistes-léninistes de France (UCFML). Et aujourd'hui encore, à 70 ans, il dirige un collectif baptisé "L'Organisation politique", qui s'investit essentiellement dans la solidarité avec les sans-papiers.
                                                                                                                                                                                        Parmi les figures intellectuelles du courant "pro-chinois", Badiou est le seul qui n'a pas bougé : dans son séminaire à Normale Sup', qui continue d'attirer chaque mois des centaines d'auditeurs, le professeur brocarde "le capitalo-parlementarisme" et cite abondamment Mao Zedong, dont il affirme que les écrits philosophiques devraient figurer au programme de l'agrégation.
                                                                                                                                                                   Depuis la disparition de Jacques Derrida, en 2004, Badiou est sans doute le penseur français le plus lu et le plus commenté à l'étranger. Ses livres se répartissent en deux catégories : les épais volumes théoriques, d'abord, où il puise dans les mathématiques pour bâtir une pensée de l'événement ; les essais de circonstance destinés à un large public, ensuite, dont le dernier en date, De quoi Sarkozy est-il le nom ? (Lignes, 2007), fait les délices de l'extrême gauche.
                                                                                                                                                                               A mi-chemin entre ces deux catégories, un autre ouvrage a semé la zizanie dans la galaxie des ex-maos français : Saint Paul. La fondation de l'universalisme (PUF, 1997). Sous la plume de Badiou, l'apôtre devient "un Lénine dont le Christ aurait été le Marx équivoque". Bien plus : selon lui, les Epîtres proposent une nouvelle figure du militant, et un credo universaliste pour demain. Contre la prolifération des "communautarismes", les textes de Paul permettraient d'en finir avec les "identités fermées" : au regard de l'universel façon saint Paul, c'est bien connu, il n'y a plus "ni Juif ni Grec, ni esclave ni homme libre, ni homme ni femme"...
                                                                                                                                                                                      Ses ex-concurrents de la Gauche prolétarienne ne s'y sont pas trompés. Dès sa parution, certains ont vu dans le livre de Badiou un authentique casus belli, une façon de déclencher cette "guerre métaphysique sur la notion même d'universel" annoncée par Benny Lévy. "Oubliez son nom !", lançait celui-ci, peu de temps avant de disparaître, à quiconque évoquait Badiou devant lui.
                                                                                                                                                                                      Par la suite, Jean-Claude Milner prend le relais. Ironie souterraine, allusions cruelles et notes assassines : texte après texte, et sans jamais le citer nommément, Milner fustige Badiou, dont il était naguère l'ami. Car, à ses yeux, l'urgence est là : il faut faire barrage aux "sectateurs de l'universel facile", qui confondent cet universel avec l'effondrement des identités, l'effacement des noms particuliers : ni Juifs ni Grecs... "L'universel selon Badiou est un universel en extension, fondé sur la conversion du plus grand nombre, affirme Milner d'une voix cristalline. Dans cette logique, est bon ce qui unit, est mauvais ce qui divise, pour paraphraser Mao... Or le nom juif est ici en position de cisaille. Depuis l'affaire Dreyfus au moins, il est le point d'achoppement, le point de honte de la belle langue française. Le nom juif divise au maximum, et c'est pour cela qu'il est porteur d'un autre universel, non plus en extension, mais tout en intensité."
                                                                                                                                                              Universel en "extension" contre universel en "intensité", fraternisation globale contre identités singulières, général contre particulier : à l'horizon de ces débats, il y a bien sûr plus d'un enjeu d'actualité. Mais il y a aussi une dispute autour de l'héritage sartrien, si central dans la conscience des gauches françaises : "Pour Sartre, l'homme n'est rien, il est néant, il ne peut pas exister sur le mode de l'identité, souligne Alain Finkielkraut. Mais Sartre admet que face à l'antisémite, celui qui s'assume comme juif mérite le respect. Si Benny Lévy est fidèle à l'homme Sartre, donc, c'est Badiou qui tire les conséquences de sa philosophie : pour lui, il n'y a rien ni personne, et surtout pas de juifs, car ils fournissent la matrice de toutes les identités à venir. Badiou, c'est Sartre moins la générosité ! Et voilà comment l'extrême gauche prend son tournant théologique : au moment où l'Eglise devient vraiment judéo-chrétienne en invoquant la première Alliance, ce sont les gauchistes qui la révoquent en enrôlant saint Paul !"
 
 
 
                                                                                                                                                                         Tournant théologique ? Alain Badiou dément. Et répond à ces critiques de plusieurs façons. Sur le mode du dépit personnel, pour commencer, en confiant sa nostalgie d'une certaine solidarité entre ex-camarades. Hier, il pouvait dire "nous les soixante-huitards professionnels". Maintenant, il déplore que ce "nous"-là fasse défection : "Ce "nous" était précisément tout sauf un nom...", souffle-t-il.
                                                                                                                                                                       Pour le reste, le théoricien maoïste est tenté de rabattre la polémique sur un axe gauche/droite, un partage classique entre progrès et réaction. A l'entendre, les critiques dont il est la cible marquent l'émergence d'un néoconservatisme dont l'originalité serait à la mesure de l'expérience mao : "Quand se mettent en place des figures inédites du conservatisme, observe Badiou, elles sont souvent liées à des retournements, au pivotement de gens qui ont été nourris par la tradition révolutionnaire. Or le maoïsme a été la grande nouveauté politique issue de Mai 68. Dans ces conditions, il n'y a rien d'étonnant à ce que ses militants continuent d'irriguer les nouveautés. Y compris les nouveautés réactionnaires !"
                                                                                                                                                                                    S'il n'en reste qu'un... Dans la famille des normaliens "lacano-maoïstes", Alain Badiou se présente comme celui qui ne s'est jamais "retourné". Ni vers l'ordre bourgeois, ni vers le ciel des religions. Et si certains le décrivent comme un chrétien qui s'ignore, Badiou, lui, proteste de son radical athéisme. Pourtant, même ses meilleurs soutiens sont tentés d'inscrire sa pensée dans le champ théologique : ainsi le théoricien trotskiste Daniel Bensaïd évoque-t-il une "philosophie guettée par la sacralisation du miracle événementiel", tandis que son collègue slovène, Slavoj Zizek, n'hésite pas à présenter Badiou comme "le dernier grand auteur de la tradition française des catholiques dogmatiques". Quand on lui rappelle ces propos, l'intéressé ne se défile pas. "A mes yeux, assure-t-il, il n'y a pas d'histoire transcendante. Mais quand on rallie une cause puissante, on s'inscrit sur une scène qui est plus vaste que soi-même. Dès lors qu'on aborde les motifs de l'appel radical, de la conversion, du nouvel homme... je vois bien qu'il y a une généalogie chrétienne, oui, bien sûr. C'est pour cela que j'ai écrit le Saint Paul." Ainsi, le plus "marxiste-léniniste" de nos philosophes prend-il toute sa part dans l'aventure métaphysique du maoïsme français.
 
Jean Birnbaum
Article paru dans l'édition du 04.05.08
 

Zizek, Badiou e o pensamento anti-democrático

                                                       
Slajov Zizek (em cima) e Alain Badiou

 
 
 
 
O filósofo e psicanalista esloveno Slajov Zizek esteve agora em Lisboa em duas etapas: a apresentação do seu livro de reflexões cinematográficas Lacrimae Rerum (Ed. Orfeu Negro) e a participação num encontro de debate cultural organizado pelo eurodeputado do Bloco de Esquerda Miguel Portas sob a égide do Grupo da Esquerda Unitária/Esquerda Verde Nórdica, isto é o grupo comunista no Parlamento Europeu.
 
Zizek é certamente um dos importantes intelectuais contemporâneos; a Relógio d’Àgua tem vindo a traduzir diversos títulos seus, faltando ainda o mais importante, a súmula, The Parallax View (MIT, 2006). O que também não se pode escamotear é a evolução anti-democrática do seu pensamento, como aliás a nova nomeada de um raros maoístas persistentes, Alain Badiou – e por importante que seja uma obra como Le siècle, não se pode tão escamotear o reiterado ódio de Badiou  à democracia representativa. Nisso, aliás, a sua persistência marxista-leninista-maoísta é de todo diferente da evolução de outros antigos membros do grupo marxista-estruturalista reunido em volta de Louis Althusser, como Etienne Balibar ou, o mais fecundo de todos, em termos quer de pensamento político quer estético, Jacques Rancière, do qual em português aliás está publicado, e passou demasiado despercebido, um livro justamente de título O Ódio à Democracia (Mareantes Editora, 2006).
 
Para mais cabal esclarecimento do que as idolatrias intelectuais se arriscam a sonegar aqui ficam pois registados alguns textos do “Libération” e do “Le Monde”.
 
 
And if you don’t speak french but just read the digests of “french theory”, well, it’s your problem, tant pis pour vous…
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Alain Badiou, Slavoj Žižek… Des philosophes mettent en cause la démocratie électorale. Critique salutaire ou retour des vieux démons?
Eric Aeschimann
QUOTIDIEN : samedi 16 février 2008
Malaise dans la démocratie, brouillard sur les urnes. Est-ce l’effet retard d’une succession de scrutins aux résultats déroutants pour la gauche ? Un mouvement d’humeur face à la démocratie libérale triomphante ? La nouvelle lubie de quelques philosophes ? Ou une crise plus profonde ? Le fait est là : la démocratie, en tout cas dans sa forme électorale, est mal en point et les intellectuels viennent à son chevet. Certains pour se demander ce que signifie cet accès de fièvre. D’autres, plus radicaux, pour affirmer que, dans un monde plus complexe et plus inégalitaire que jamais, le système représentatif ne permet plus au plus grand nombre de participer à la prise de décision collective et qu’il faut désormais s’interroger sur ses fondements même.
 
 
 
                                                                                                                                                                       Punir les élus. Le constat, d’abord. Il traverse les clivages politiques. Venus de la gauche antitotalitaire, des historiens des idées tirent la sonnette d’alarme. «La démocratie d’élection s’est incontestablement érodée», écrivait Pierre Rosanvallon fin 2006 dans La Contre-Démocratie. Proche de la deuxième gauche, il y décrivait les diverses formes de la «défiance» démocratique, de la «démocratie négative» : abstention, manifestations, volonté de surveiller et de punir les élus. Dans l’introduction du premier tome de L’Avènement de la démocratie, paru à l’automne, son collègue Marcel Gauchet préfère parler d’«un e anémie galopante», une «perte d’effectivité» qu’il attribue à une «crise de croissance» de grande ampleur. L’ironie veut que ces analyses se développent au moment même où, pratiquement à l’opposé de l’échiquier intellectuel, la critique de la «démocratie formelle», aussi vieille que le marxisme, connaît une deuxième jeunesse.
                                                                                                                                                                         En témoigne le succès inattendu du petit essai du philosophe, Alain Badiou, De quoi Sarkozy est-il le nom ? , véritable charge contre la loi des urnes. «Tout le monde voit que la démocratie électorale n’est pas un espace de choix réel», écrit-il. Face à la «corruption» des démocraties par les puissances de l’argent, l’heure serait venue de définir «une nouvelle pratique ce qui fut nommé "dictature" (du prolétariat). Ou encore, c’est la même chose : un nouvel usage du mot "Vertu".»
 
 
 
                                                                                                                                                                      Plusieurs voix se sont élevées - celles de Bernard-Henri Lévy ou du critique littéraire Pierre Assouline - pour dénoncer le retour d’une rhétorique associée au communisme stalinien. Michel Taubman, directeur de la revue Le Meilleur des Mondes, guère suspect de complaisance envers la pensée gauchiste, affiche, lui, une certaine placidité : «Il y a trente ans, en France, 20 % de la population dénonçait la démocratie bourgeoise et croyait à la dictature du prolétariat. On vivait avec. En réalité, ces intellectuels radicaux ne représentent rien, car, aujourd’hui, même Besancenot [o carteiro líder da L.C.R. trotzkista] défend la démocratie électorale.» Pourtant, que la discussion prenne en France une tournure si véhémente n’est pas un hasard. «Les Français sont, au plan européen, les plus pessimistes sur leur démocratie et leurs représentants», note Stéphane Rozès, directeur de l’institut CSA. La crise, diagnostique-t-il, est «spirituelle» et sanctionne le discours d’impuissance tenu par les responsables politiques face à la mondialisation.
 
                                                                                                                                         
 
 «Impuissance». Abstention à la présidentielle de 2002, victoire du non au traité constitutionnel européen, coups de cœur aussi brusques qu’éphémères pour Ségolène Royal puis François Bayrou, participation massive pour le sacre de Nicolas Sarkozy, scrutins locaux transformés en défouloirs, la boussole s’affole. Ni les frasques sarkoziennes ni la ratification du mini traité européen ne devraient contribuer à restaurer la confiance dans les vertus du bulletin de vote. De quoi conforter Badiou, pas fâché de constater dans son livre : «L’impuissance était effective, elle est maintenant averée".
 
 
                                                                                                                                                                            «Les Français ne reprochent pas aux politiques leur manque de proximité, mais leur irresponsabilisation», reprend Rozès, ajoutant que les Français y sont d’autant plus sensibles que leur vivre-ensemble n’est pas fondé sur la religion ou l’ethnie, mais sur le partage d’idéaux politiques. Reste à se mettre d’accord sur les causes de l’impuissance démocratique. C’est tout l’enjeu de la réflexion qui s’engage. Pour Marcel Gauchet, l’avènement d’une conception hypertrophiée des droits de l’homme a fini par priver la collectivité de tout moyen d’action. Patrick Braouzec, député communiste de Saint-Denis, pense au contraire que «à côté des élections, auxquelles les gens sont très attachées, mais qui constituent un moment spécifique, la démocratie ne peut que s’atrophier si elle ne s’appuie pas également sur une démocratie participative et sur le mouvement social». Un «mouvement social» aux contours flous - manifestations de rue, soutiens aux enfants sans-papiers, opérations médiatiques des Enfants de Don Quichotte… - et qui, poussé à l’extrême, rappelle le titre d’un livre du philosophe John Holloway, en vogue chez les altermondialistes : Comment changer le monde sans prendre le pouvoir. Faire de la politique, d’accord, mais hors les urnes.
                                                                                                                                                                           Le philosophe slovène Slavoj Zizek, star des campus américains et habitué des blagues provocatrices, va encore plus loin en estimant que seule «la violence populaire» permettra aux classes défavorisées de se faire entendre dans des démocraties libérales. Žižek publie ce mois-ci en France un recueil des «plus beaux discours de Robespierre», précédé d’une longue introduction où il se demande comment «réinventer une terreur émancipatrice». Icône de la pop-philosophie, connu d’abord pour ses analyses du cinéma hollywoodien, l’homme est pourtant le contraire d’un nostalgique. Il a combattu en son temps le «socialisme réel» dans la Yougoslavie titiste et participé aux premiers pas de la démocratie slovène. Sa radicalisation semble montrer que le désenchantement démocratique ne saurait se réduire à une exception française.
                                                                                                                                                                    «Arrogance occidentale». C’est que, un peu partout sur la planète, les processus de démocratisation connaissent des ratés, d’ordres divers, qui mettent à mal la «promotion de la démocratie», pour reprendre le vocabulaire en usage à l’ONU depuis les années 90 : l’Irak et l’Afghanistan, mais aussi la Russie reprise en main par Poutine, l’Algérie ou la Palestine où les islamistes se sont vus confisquer leurs victoires gagnées par les urnes. Ou encore, la montée des populismes en Pologne, au Danemark, en Belgique. Voire une Amérique qui, pour imposer la démocratie, n’a pas hésité à transgresser les principes élémentaires du droit. De quoi nourrir pour un bon moment le débat. Car, qu’on le veuille ou non, celui-ci est ouvert. Dans le numéro de janvier de la revue Esprit, Pierre Rosanvallon pointait «une certaine arrogance occidentale et un certain aveuglement sur la nature et les problèmes de la démocratie.»
 
 
«Nous allons devoir redevenir utopiques»
Slavoj Žižek plaide pour une mobilisation populaire :
Recueilli par ÉRIC AESCHIMANN (à Ljubljana)
QUOTIDIEN : samedi 16 février
                                                                                                                                                                  Slavoj Žižek est philosophe. Il publie et préface deux anthologies «rouges» : Robespierre : entre vertu et terreur, (éd. Stock) et Au bord de la révolution. Lénine commenté par Žižek (éd.  Aden) .                                                                                                                                                                                                                                                                                        Quelle critique faites-vous à la démocratie ?
Peut-être la même que les conservateurs… Les conservateurs ont le courage d’admettre que la démocratie est dans une impasse. On s’est beaucoup moqué de Francis Fukuyama lorsqu’il a annoncé la fin de l’histoire, mais aujourd’hui, tout le monde accepte l’idée que le cadre démocratico-libéral est là pour toujours.
On se contente de réclamer un capitalisme à visage humain, comme on parlait hier d’un communisme à visage humain. Regardez la science-fiction : visiblement, il est plus facile d’imaginer la fin du monde que la fin du capitalisme.
                                                                                                                                                           
Le capitalisme, c’est la cible, derrière la critique de la démocratie ?
Soyons clair : l’Europe de l’après-guerre a connu un niveau moyen de bonheur jamais vu. Mais quatre problèmes majeurs viennent déséquilibrer le modèle démocratico-libéral.
1) Les «sans-part», les sans-papiers, sans-abri, sans-emploi, ceux qui ne participent pas à la vie de la communauté, dont l’Etat ne s’occupe plus.
2) La propriété intellectuelle, que le marché ne parvient plus à réguler, comme le montre le destin délirant de Bill Gates, fondateur de Microsoft.
3) L’environnement, dont la régulation peut assurer le marché lorsque la pollution est mesurable, mais pas quand le risque devient incalculable - Tchernobyl, les tempêtes…
4) La biogénétique : est-ce au marché de dire où commence l’humain ?
Dans ces quatre domaines, ni la démocratie libérale, ni le capitalisme global n’apportent les bonnes réponses.
                                                                                                                                                                   
Quelle alternative ?
Je ne suis pas crétin, je ne rêve pas à un nouveau parti communiste. Ma position est plus tragique. Comme tout marxiste, j’admire la productivité incroyable du capitalisme et je ne sous-estime pas l’utilité des droits de l’homme. L’arrestation de Pinochet a joué un rôle psychologique très important au Chili. Mais regardez le vénézuélien Chávez. On dit qu’il est populiste, démagogique, qu’il ne fait rien pour l’économie, que cela va mal finir. C’est peut-être vrai… Mais il est le seul à avoir inclu les pauvres des favelas dans un processus politique. Voilà pourquoi je le soutiens. Quand on critique sa tentation dictatoriale, on fait comme si, avant lui, il y avait une démocratie équilibrée. Or, c’est lui, et lui seul, qui a été le vecteur de la mobilisation populaire. Pour défendre ça, je pense qu’il a le droit d’utiliser l’appareil d’Etat - appelez cela la Terreur, si vous voulez. 
                                                                                                                                                                    Pour les penseurs libéraux, capitalisme et démocratie restent inséparables.
On l’a beaucoup dit, mais en Chine est en train de naître un capitalisme autoritaire. Modèle américain ou modèle chinois : je ne veux pas vivre dans ce choix. C’est pourquoi nous allons devoir redevenir utopiques. Le réchauffement climatique va nous amener à réhabiliter les grandes décisions collectives, celles dont les penseurs antitotalitaires disent qu’elles mènent forcément au goulag. Walter Lippmann a montré qu’en temps normal, la condition de la démocratie, c’est que la population ait confiance dans une élite qui décide. Le peuple est comme un roi : il signe passivement, sans regarder. Or, en temps de crise, cette confiance s’évapore. Ma thèse est de dire : il y a des situations où la démocratie ne fonctionne pas, où elle perd sa substance, où il faut réinventer des modalités de mobilisation populaire.
                                                                                                                             D’où votre éloge de Robespierre.
La Terreur ne se résume pas à Robespierre. Il y avait alors une agitation populaire, incarnée par des figures encore plus radicales, comme Babœuf ou Hébert. Il faut rappeler qu’on a coupé plus de têtes après la mort de Robespierre qu’avant - mais lui avait coupé des têtes de riches… En fait, il est resté très légaliste. La preuve, il a été arrêté. Ce qui m’intéresse chez lui, c’est ce que Walter Benjamin appelle «la violence divine», celle qui accompagne les explosions populaires. Je n’aime pas la violence physique, j’en ai peur, mais je ne suis pas prêt à renoncer à cette tradition de la violence populaire. Cela ne veut pas toujours dire violence sur les personnes. Gandhi, par exemple, ne s’est pas contenté d’organiser des manifestations, il a lancé le boycott, établi un rapport de force. Défendre les exclus, protéger l’environnement passera par de nouvelles formes de pression, de violence. Faire peur au capitalisme, non pour tuer, mais pour changer quelque chose. Car sinon, on risque d’aller vers une violence plus grande, une violence fondamentaliste, un nouvel autoritarisme.
                                                                                                                               Dans la perspective d’une «violence populaire», un intellectuel sert-il à quelque chose ?
A en prévenir les formes catastrophiques. A faire voir les choses autrement. Deleuze disait que s’il y a de fausses réponses, il y a aussi les fausses questions. Un conseil de philosophes ne peut pas établir un projet pour mobiliser les masses. Mais on peut jeter les idées et peut-être quelque chose sera récupéré. Les émeutes des banlieues en France sont nées d’un mécontentement non-articulé à une pensée, même de façon utopique. C’est ça, la tragédie.
                                                                                                                                Vos amis à gauche pensent-ils comme vous ?
Ce qui domine, surtout aux Etats-Unis, c’est un gauchisme libéral, tolérant, pour lequel la moindre allusion à la notion de vérité est déjà totalitaire, où il faut respecter l’histoire de chacun. Pour le philosophe Richard Rorty, ce qui définit l’homme, c’est sa souffrance et sa capacité de la raconter. Je trouve assez triste cette gauche de ressentiment et d’impuissance.
 
 
Editorial
Egarement
laurent joffrin
QUOTIDIEN : samedi 16 février 2008
                                                                                                                                                                               Au cœur des petits cénacles se préparent souvent les grandes polémiques. Dans plusieurs cercles intellectuels, la démocratie se retrouve bizarrement au banc des accusés : il faut s’en soucier, sinon s’en alarmer.
                                                                                                                                                                   Certes ses nouveaux contempteurs, un Badiou, par exemple, dont le livre rencontre un succès inattendu, ou un Žižek, ogre mangeur d’humanistes bêlants, remuent de très vieilles idées. De l’expérience totalitaire, ils ont beaucoup oublié et fort peu appris. Leur critique de la «démocratie formelle» exhale un parfum rance de sacristie marxiste. Leur éloge de la radicalité laisse transparaître une douteuse indulgence pour la violence politique. Pourtant on aurait tort de tenir ces égarements pour quantité négligeable. Pas seulement parce que le frisson de la subversion leur assure une influence parisienne indéniable. Les plus convaincus soutiens du système démocratique ne peuvent pas nier que le régime de leur cœur rencontre un discrédit inquiétant quoique diffus. L’inégalité, l’injustice, qui servent décidément de carburant au mouvement de l’époque, alliées à la vacuité marchande, bouchent l’avenir aux yeux d’une part croissante de la population. La démocratie, qui procure souvent prospérité (relative) et paix civile, est chiche d’espoir et d’enthousiasme. Autant que se gendarmer devant les importuns, les démocrates doivent surtout réinventer l’idée même de progrès. Faute de quoi ils laisseront de plus en plus le champ libre aux nostalgiques des utopies de fer et de sang.
 
 
 
 
«La seconde jeunesse d'Alain Badiou, nouvel héraut de l'anti-sarkozysme
LE MONDE | 11.01.08 | 14h16  •  Mis à jour le 11.01.08 | 14h16

Voilà un succès qui en dit long sur un certain désarroi à gauche. Le livre pamphlet d'Alain Badiou De quoi Sarkozy est-il le nom ? (Lignes, 14 euros) fait un tabac deux mois après sa sortie. Et réassure une petite notoriété à un philosophe plutôt aride dont les présupposés politiques restent - de manière assumée - très empreints d'un marxisme léninisme puisant aux sources les orthodoxes ("mao- stal", aurait on dit les années 1970).
                                                                                                                                  Ses plus de 17 000 exemplaires vendus - inespéré pour un auteur dont les ouvrages plus austères ne dépassent pas les 3 000 - un retirage en urgence par la petite maison d'édition, un nombre de recensions encore jamais atteint... : "On savait que ce livre allait se vendre mais pas à ce point", confie Sébastien Raimondi, responsable d'édition.
C'est par le bouche-à-oreille au sein d'un lectorat très critique à l'encontre de Nicolas Sarkozy que le livre fut conseillé. Des lecteurs "déprimés", comme les décrit Alain Badiou dans son ouvrage. Tellement assommés par ce "coup sur la tête" qu'ils cherchaient des mots que le philosophe a su trouver pour nommer leur mal-être. Parlant de M. Sarkozy comme de "l'homme aux rats", expression d'un "pétainisme soft" face à une gauche impuissante, il propose à ses lecteurs une "nouvelle morale" pour n'"être ni rat ni déprimé", un nouveau "courage".
                                                                                                                                  Sur le Net, des sites militants comme Non-a-lintox.org, Paper.blog, Bellaciao ou Rezo.net ont vite chroniqué le petit ouvrage. Il a aussi gagné les sites locaux Désirs d'avenir, de Ségolène Royal, ou Nonfiction.fr, de l'écrivain Frédéric Martel. Patrick Besson lui a consacré un éditorial dans Le Point, Le Parisien une pleine page, et le voilà convié par les radios telles BFM ou France Inter. Répondant à "toutes" les invitations - "sauf la télé parce que les débats sont tronqués", dit-il -, M. Badiou sillonne, à 70 ans, les librairies et les cercles militants.
                                                                                                                                  Pourquoi un tel engouement ? "C'est un livre accessible qui reprend une interrogation partagée", explique son éditeur. L'auteur, s'en amuse : "Je suis frappé par la violente hostilité dont Sarkozy est l'objet de la part de gens que je rencontre : des intellos, des ouvriers, des profs. C'est le début d'une minorité très constituée", professe M. Badiou. Une minorité dont rêve le disciple de Mao même si elle n'est pas encore "agissante".
 
Sylvia Zappi
Article paru dans l'édition du 12.01.08
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Mil Planaltos

 

 

 

 

O livro foi publicado em 1980. Anuncia-se como volume II de O Anti-Èdipo – Capitalismo e Esquizofrenia, mas de facto excede largamente esse propósito. É em Mille Plateaux que os conceitos de “rizoma” e “desterritorialização” estão elaborados, mas a obra, uma das mais iluminantes e densas do pensamento contemporâneo, está também preenchida de observações estéticas. Em Portugal, e pela Assírio & Alvim, estava publicada a famosa introdução, Rizoma.
Durante anos – e como em nenhum outro caso – fui indagando pela posibilidade (pela necessidade) da sua tradução, foram-se sucedendo-se as conversas com o Manuel Rosa, o editor da Assírio, tentando saber do processo, dos prazos de tradução, do horizonte previsto de publicação. Até que há dias, o Manuel, com aquela sua particular dedicação a cada livro que publica – e este é dos mais arriscados de editar – a primeira coisa que fez mal nos encontrámos foi passar-mo para a mão. Eis agora nas livrarias portuguesas Mil Planaltos.
Sempre me chocou por exemplo o modo como esse livro teoricamente disléxico de tanta nomeada, a “vulgata” da anti-globalização que é o Império de Tonio Negri e Michael Hardt (e Negri tem textos de pensamento político bem mais substanciais), autenticamente “pilha” muito dos quadros conceptuais de Mil Planaltos, algo que, a meu conhecimento (mas posso desconhecer outras referências) apenas Slavoj Zizek notou, mas para no seu entusiasmo marxista pela panfleto objectar contudo ao “deleuzianismo”.
Sem querer de modo algum menorizar Guattari (de quem, nomeadamente, as observações sobre um “nova glaciação” após os entusiasmos militantes se vieram a revelar de extrema pertinância), de resto uma estratégia que foi seguida por vários contraditores, importa-me ainda assim neste momento assinalar outros dois pontos especificamente referentes a Deleuze:
1) A confirmação da extraordinária importância do seu “Post-Scriptum sobre as sociedades de controlo” (“post-scriptum” ao conceito de “sociedades disciplinares” de Foucault) incluído em Conversações (Ed. Fim de Século), quando somos referenciados por cartões ou plelo nosso rasto nas tecnologias electrónicas;
2) De devidamente assinalar que nenhum outro pensamento se tornou tão própriamente “rizomático” no campo estético como o seu, nas mais diversas àreas aliás. Por exemplo na música, já fiz aqui referência a um Bernhard Lang, de quem aliás o Remix recentemente gravou duas peças do ciclo DW, isto é Differenz/Wiederholung, referència explícita a Diferença e Repetição, ou Quad in Memoriam Gilles Deleuze de Pascal Dusapin, título evidentemente beckettiano, mas obra sobretudo referida ao texto de Deleuze sobre esse outro de Beckett, L’Epuisé – e obra que de resto o Remix interpreta a 29 de Março na Casa da Música e a 30 na Gulbenkian.
E muitos outros exemplos se poderiam citar, sem deixar de referir textos como Cinema 1  – A Imagem-Movimento e Cinema 2 - A Imagem-Tempo ou Francis Bacon: Logique de la sensation.
 
NOTA – Um miserável, que outro nome não tem, na posse de contactos de Manuel Rosa e sabendo de concretos movimentos seus ontem, fez telefonemas vários dando notícia de que ele teria morrido. Foram momentos de consternação para muitos de nós, e eu próprio involutariamente cheguei a aqui mesmo pôr a “notícia”, logo retirada quanto recebi informação desmentindo-a. Felizmente foi mesmo apenas uma vil atoarda, mas ainda assim uma explicação é devida.