Violoncelo Solo
Tatjana Vassiljeva
Obras de Bach, Cassadó, Dutilleux e Kodaly
Culturgest, 20 de Março, às 18h
A Culturgest tem vindo a apresentar uma série de recitais que constituem uma proposta de programação musical que pela sua originalidade, fora dos parâmetros canónicos, importa assinalar e saudar: músicos a solo, interpretando obras do período barroco e modernas e contemporâneas.
O ciclo abriu a 9 de Janeiro com essa singularíssima intérprete que é a pianista Joanna MacGregor, que interpretou alternadamente Prelúdios e Fugas de Bach e Chostakovich e depois obras de compositores brasileiros (Villa-Lobos mas também Egberto Gismonti, Edu Lobo, Baden Powel e Tom Jobim) mais um arranjo de seis temas de Astor Piazzola. Curiosamente, e apesar de serem peças de O Cravo Temperado tocadas num piano moderno, achei-a mais convincente em Bach que em Chostakovich, neste faltando a aspereza, mas segunda parte estiveram em destaque as características mais peculiares de MacGregor, que foi sobretudo magnífica na transcrição do admirável tema que é Trevo de Gismonti. Foi um recital empolgante.
Seguiu-se em Fevereiro o violinista David Grimal, concerto a que infelizmente não pude assistir, que entre as Partitas nº 1 e 2 de Bach tocou Kontrapartita, Chaconne de um dos mais assinaláveis compositores franceses contemporâneos, Brice Pauset. E ontem foi a vez de Tatjana Vassilijeva, vencedora do Concurso Rostropovich e detentora já de um notável curriculum.
Do conhecimento discográfico deduz-se que Vassiljev é especialmente notável no reportório moderno e contemporâneo, não tanto no barroco e clássico, o que se confirmou no recital. A sua interpretação da Suite nº3 de Bach incomodou pelo vibrato e foi monótona pelo carácter seco, com escassa caracterização particular de cada uma das danças. Mas em contrapartida a violoncelista foi notável nas obras de Cassadó, Dutilleux e Kodály.
Gaspar Cassadó é sobretudo conhecido enquanto violoncelista, mas, tal como outro, Pablo Casals, foi também compositor. A Suite para Violoncelo Solo segue as linhas fundamentais do folclorismo espanhol de Granados, Álbeniz e Falla. Nela, Vassiljeva demonstrou um agudo sentido rítmico comunicando o carácter das danças. Seguiram-se duas das obras máximas para violoncelo do século XX, as Trois Strophes sur le nom de Sacher de Henri Dutilleux (um grande compositor, tão pouco ouvido em Portugal) e a Sonata de Kodaly. Foi nestas obras que Vassiljeva mais se distinguiu, magnífica mesmo na Sonata para violoncelo solo de Kodály, com ampla sonoridade e uma perícia técnica de excepção.
O ciclo prosseguirá com a cravista Ana Mafalda Castro, tão raramente ouvida em recital a solo. Repita-se pois que pela singularidade da proposta de programação e dos intérpretes, esta iniciativa da Culturgest é um ciclo a assinalar.